Panorama do mercado de carros usados

Certamente o ano de 2020 foi um dos mais desafiadores das últimas décadas. As incertezas causadas pela pandemia de covid-19 trouxeram aprendizados que transformaram o comportamento de compradores e de vendedores no setor automotivo, antecipando mudanças antes previstas para acontecerem muitos anos à frente. Tendo isso em vista, se faz necessário entendermos o panorama do mercado de carros usados, analisando não só a realidade atual como também o que aconteceu no último ano e, principalmente, as tendências para 2021.  

Carros usados mais vendidos

Ao observar os carros usados mais comprados pelos brasileiros em 2020, é possível concluir que os hatches populares ainda são os mais procurados.

Nas primeiras posições do ranking de dezembro, por exemplo, temos os conhecidos Gol, Palio, Uno, Celta e Onix. A exceção na lista é o Toyota Corolla, sedã que ocupa a sétima posição entre os mais comercializados. Já os cinco veículos comerciais mais revendidos nesse mesmo mês foram Strada, Saveiro, S10, Hilux e Montana.

Quando o assunto é marca, enquanto o mercado de carros 0 km vem assistindo algumas trocas de cadeiras nas primeiras posições de vendas, o mercado de veículos usados ainda mantém as chamadas “quatro grandes” – Chevrolet, Volkswagen, Fiat e Ford – nas primeiras colocações.

Alta demanda, baixa oferta

Ao observar os dados de vendas de seminovos em 2020, o mercado teve uma queda de 14,6% quando comparado com 2019. Uma retração dessa proporção já era esperada por causa da pandemia, mas o que surpreende é a alta procura que surgiu a partir do segundo semestre do ano passado, principalmente nos últimos meses, atingindo um aumento de 21,3% em dezembro, segundo dados da Fenabrave.

Além disso, segundo levantamento da AutoAvaliar, a média de dias de giro de estoque das lojas de usados caiu bastante. Ela é calculada considerando a data da venda menos a data da compra. 

A média ficava acima de 40 dias na média de 2019. Em maio de 2020, no auge da pandemia, chegou a 69 dias, mas já em setembro atingiu 34 dias, o que demonstra a aceleração do mercado. O início de 2021 mostra que esse cenário de alta demanda deve continuar, porém a baixa oferta nos estoques já começa a refletir nos faturamentos de 2021.

Ainda assim, é possível encontrar boas opções de carros usados no mercado, mas para isso é necessário pagar um pouco mais que o normal. 

Financiamento de carros usados

Outra demonstração de que a procura por carros seminovos está em alta é a quantidade de financiamentos vêm sendo realizados. Em janeiro deste ano, dos 450 mil financiamentos automotivos efetivados, 329 mil foram de carros usados. Além de representar 73% sobre o total, esse número é o segundo maior de todos os janeiros desde 2012 (o primeiro foi em 2019, com 359 mil).

Taxa de juros

A estimativa para este ano é que a taxa de juros se mantenha em um patamar baixo, mas com tendência de aumento ao longo dos meses. Hoje, a taxa básica de juros (conhecida como Selic) encontra-se em 2,00% ao ano, mas a nova projeção do Banco Central é de que ela feche 2021 em 3,25% a.a. e, em 2022, atinja a casa de 4,75% a.a. Apesar da previsão de reajuste, a Selic ainda estará em um bom patamar para quem deseja financiar um veículo, principalmente quando se considera que ela já chegou a ficar acima de 14% a.a. em 2016. 

Especificamente no setor automotivo, também se tem um cenário positivo. Dados divulgados pela B3, a bolsa de valores do Brasil, mostram uma queda da inadimplência, consolidando a redução que já vinha acontecendo em anos anteriores, mas que chegou a ser “abalada” durante o auge da pandemia nos meses de abril e maio. Com isso, a aprovação de crédito também é facilitada para quem vai comprar algum veículo em breve.

No último mês, a taxa de juros média para financiar um carro para pessoa física ficou em 1,47% ao mês e em 19,20% ao ano. Já para pessoa jurídica ela ficou em 0,89% a.m. e em 11,24% a.a. 

Mais comodidade para o comprador de usados

Dados dos últimos anos já sinalizavam para uma grande mudança nos hábitos de pesquisa e de compra dos clientes do setor automotivo. Para se ter uma ideia, em 2017, 80% das vendas de veículos iniciaram na internet. O brasileiro gasta 16 mil horas por mês em sites de montadoras, anúncios e informativos. As informações são da pesquisa “Os novos consumidores de carros do Brasil”, da empresa AutoForce. 

Após o início da pandemia, os hábitos no meio digital foram intensificados principalmente pela necessidade de isolamento e de distanciamento social. Dessa forma, empresas e clientes que antes usavam canais presenciais com certa frequência foram praticamente obrigados a se adaptarem à uma nova realidade que une atendimento à distância, processo quase todo iniciado por um canal digital como os sites, redes sociais ou WhatsApp.

Com isso, a prática de pesquisar carros em portais como OLX, WebMotors e iCarros disparou e foi seguido por adaptações importantes. Hoje, já é possível fazer uma cotação 100% online do carro usado que entrará na troca, checar o preço médio que o mercado paga nesse mesmo veículo, realizar a análise de crédito e, em muitos casos, ainda agendar um test-drive e a entrega à domicílio.  Esse comportamento seguirá forte ao longo de 2021 e, provavelmente, se tornará rotineiro na relação entre consumidor e vendedor.